Episódio 5: O Ritual Parte II
- luzesombra
- 29 de ago. de 2024
- 19 min de leitura

O Ritual Parte II, ou O Poder da Fé, contará um pouco melhor da história da Igreja Universal do Reino de Deus, que foi base sólida para que Marcelo Costa de Andrade, ou o Vampiro de Niterói, juistificasse os assassinatos de suas vítimas, todas meninos entre 5 e 13 anos de idade.
AVISO: A história a seguir contém cenas fortes de violência infantil, portanto não é recomendado para pessoas sensíveis ao tema e menores de 18 anos. Todas as informações contidas foram retiradas de fontes públicas. Quaisquer solicitações, favor, enviar um e-mail para luzesombrapodcast@gmail.com.
“Maníaco Sexual.
A polícia espera confirmar, até a próxima sexta-feira, mais seis assassinatos de crianças já confessados pelo maníaco Marcelo Costa de Andrade, 25 anos, preso na 76ª DP. em Niterói. Foram confirmados oito, dos 14 crimes admitidos por Marcelo contra crianças que violentava e matava. Os crimes ainda sem confirmação são os que Marcelo afirma ter praticado em Comendador Soares, Japeri, Queimados, Belford Roxo, Triagem e Deodoro. Ontem, Marcelo contou que viveu boa parte da sua vida nas ruas, na Funabem e na Casa dos Meninos, no Engenho Novo. Com 18 anos, passou a viver de prostituição na Cinelândia e na Central do Brasil, tendo morado com um homossexual, por dois anos, no Bairro de Fátima. Na Igreja Universal do Reino de Deus, em Niterói, o pastor Bruno disse que não conhece Marcelo: “Nós atendemos a mais de dois mil fiéis diariamente. Não há condições de gravar a fisionomia de todos” afirmou o pastor. Marcelo disse que frequentava esta igreja.”
Essa é uma publicação datada de 19 de fevereiro de 1992, que está na edição 315 do Jornal do Brasil. Agora, em 2024, sabemos que algumas informações contidas nessa publicação são um pouco diferentes. Realmente Marcelo confessou o assassinato de 14 crianças em diversas localidades no Rio de Janeiro, e ainda em Minas Gerais, mas sabemos que não foi possível comprovar muitos desses casos, como o de Minas. Sabemos também que sua vida de prostituição começou ainda mais cedo, com dez anos de idade quando ele fugiu da casa do pai e foi morar na rua.
Mas existe sim informações contidas que são verdades: Marcelo passou por várias casas de acolhimento e, em sua juventude, morou com um senhor que era porteiro de um prédio, até que esse homem decidiu voltar para Salvador, deixando Marcelo para trás. No início dos vinte anos ele voltou a morar com a mãe em Manilha, bairro de Itaboraí e conseguiu um emprego como entregador de panfleto de joalheria em Copacabana.
Foi nesse mesmo momento estável de sua vida que Marcelo começou seus crimes, com sua primeira vítima sendo um menino que ele encontrou nas barcas quando voltava do trabalho. Marcelo o ludibriou a segui-lo até o início da rodovia Niterói-Manilha, e foi lá que ele o atacou e matou o menino, deixando seu corpo jogado em um túnel escondido. Ele disse que foi lá mais duas vezes e na terceira, o corpo não estava mais lá. Foi nesse momento que Marcelo faz sua segunda vítima, Odair, que morava também em Itaboraí.
Ne segunda vítima, Marcelo o ludibria a segui-lo até um campo de futebol deserto, mentindo que precisava de ajuda para acender uma vela para São Jorge. E lá ele ataca o menino e o estrangula com sua própria roupa, depois de abusar sexualmente da vítima. Então, Marcelo deixa seu corpo já sem vida naquele local.
Já a terceira vítima a criminalista Ilana Casoy chama de “Tiago” quando vai conversar sobre na entrevista que teve com Marcelo para seu livro “Arquivos Serial Killers: Made in Brazil”. E nesse caso Marcelo volta a dizer que chama o menino para acender velas para São Jorge, mas dessa vez o leva para uma antiga escola publica, ou CIEP, desativado e lá ele abusa da criança o mata deixando cair uma pedra em sua cabeça, mas dessa vez ele faz algo ainda pior: ele diz que bebe o sangue de sua vitima.
Acho muito intrigante que a religião está presente em muitos casos de assassinos seriais. No Projeto Humanos, podcast do Ivan Mizanzuck, por exemplo, vemos a força que a religião teve em tornar réu e culpabilizar diversas pessoas, que depois foram dadas como inocentes. E na história de Marcelo não é diferente.
Primeiro ponto: Marcelo conta em todas as entrevistas que deu, que ele enganava suas vítimas alegando que precisava de ajuda para acender velas para São Jorge, um santo da religião católica que é muito conhecido por ser um guerreiro que luta contra um dragão, e que foi associado a Ogum na Umbanda e Candomblé.
Nas pesquisas que fiz, descobri que o padrasto de Marcelo fazia parte de uma religião afrodescendente, o que ele informava não gostar muito. Então em sua juventude, Marcelo conhece a Igreja Universal do Reino de Deus, logo depois de ouvir uma pregação na televisão. Ele, então, começa a frequentar a filial da igreja em Niterói até três vezes na semana, quando sua vida passa por uma estabilidade.
Então, no dia 17 de dezembro de 1991, Marcelo Costa de Andrade foi preso acusado de assassinar o pequeno Ivan Medeiros de Abreu, depois da polícia ouvir do seu irmão, que conseguiu escapar, o que realmente aconteceu. Marcelo confessou mais 13 assassinatos de crianças em diversos locais.
Como vimos no episódio anterior, Marcelo é considerado um assassino serial Libertino, pois sentia prazer sexual no modo que matava suas vítimas. Além disso, podemos ver perfeitamente o que Ilana Casoy aponta em seu livro como “as 6 fases do serial killer” (veja a postagem do episódio anterior AQUI):
Fase aurea: Marcelo começa a perder a compreensão da realidade, sendo tomado apenas por seu desejo.
Fase de pesca: quando ele acha sua presa perfeita enquanto caminha pelas ruas da cidade.
Fase galanteadora: Então Marcelo inventa qualquer coisa para conseguir convencer a vítima de segui-lo.
Fase da captura: Então, a vítima segue ele, sendo ludibriado por Marcelo.
Faso do assassinato ou totem: quando Marcelo decide atacar a vítima, abusando sexualmente e o assassinando.
E fase da depressão: Marcelo conta que muitas vezes voltava no local do crime, não apenas para ver, mas para conseguir objetos da vítima morta.
Um ritual que acontecia com frequência. Assim que ele terminava esses passos, o ciclo se iniciava em outro vítima que ele se encontrava. E havia mais um fator importante que ligava todos os assassinatos e davam uma espécie de motivo para qualquer que fizesse tal pergunta para Marcelo.
Nas entrevistas, ele sempre dizia que gostava de escolher as crianças entre os 5 e treze anos de idade (preferencialmente, na faixa entre dez e treze). Que não pegava maiores, pois tais crianças já não era mais puras, como dizia. E foi ouvindo uma pregação da Igreja Universal do Reino de Deus, que Marcelo encontrou um motivo para os assassinatos: ele dizia que, segunda tal pregação, essas crianças puras iriam direto para o céu.
E esse tema por si só era bem complexo enquanto eu tentava fazer uma espécie de organização de toda história para, assim, tentar entender um pouco de todas as variáveis desse caso e entender também um pouco da cabeça do assassino e o que motivou a matar brutalmente todas essas crianças.
E para isso, eu precisava ir a fundo nesse tema, eu tinha que conhecer um pouco mais desse mundo que era desconhecido para mim, e precisava achar qualquer informação que me levasse a esse fato que Marcelo sempre falava.
E nesse episódio, caro ouvinte, você vai comigo a uma viagem complexa nesse mundo da Igreja Universal do Reino de Deus.
Eu sou Thiago Pined e você está ouvindo a Luz e Sombra: O Caso do Vampiro de Niterói.
Você ouvinte desse podcast deve estar se perguntando “por que um episódio apenas sobre a Igreja Universal?
E eu posso te responder categoricamente que esse tema é tão complexo e interessante que, na minha singela opinião, ele merecia até um podcast específico para ele; entender essa sociedade me causa estranheza e curiosidade. Bem, primeiro tenho que dizer aqui para vocês que posso ser chamado de cético; não acredito fielmente em muitas coisas, e minha mente vive questionando vários assuntos. Por isso, meu olhar sobre esse tema vai ser, na verdade, tentando responder a muitas perguntas que eu mesmo faço.
Eu lembro de quando eu era bem mais novo e ia de ônibus com minha mãe para um centro de compras que era mais ou menos perto de casa. Nesse meio do caminho, quase perto desse centro (em Alcantara, São Gonçalo, pra ser mais específico), havia um enorme terreno que nunca havia sido usado para nada. Ate que um dia, uma empresa de construção cercou esse terreno e ai começou uma obra de repente, de algum novo empreendimento nesse local que ninguém sabia, exatamente, o que podia ser. Até que a construcao ficou maior e maior e se tornou um enorme prédio que rodava quase que praticamente um quarteirão inteiro, com uma escadaria de mármore, pilares que me faziam relembrar a templos gregos.
Mas o que tinha sido construído ali ia bem longe da mitologia Grega. Com paredes de cor amarela, havia também um símbolo novo há metros acima das enormes portas de madeira, que era bem assim: um coração vermelho com o que me parece ser uma ave voando de cor branco dentro desse coracao. Bem abaixo estava escrito: Igreja Universal do Reino de Deus.
Como eu era muito pequeno, não entendia muito bem a grandeza daquilo que chamavam de templo, mas os adultos falavam que era uma igreja evangélica pertencente a um tal de Bispo Macedo, milionário. A minha família é muito católica, então, lembro de que naquela época, eles já falavam sobre o homem que fez fortuna ludibriando os pobres fieis. Lembro também que diziam que, naquela igreja, se pedia de tudo como dizimo; até as joias das pessoas.
Bem, não posso dizer se isso é realmente verdade, afinal, nunca frequentei tal igreja. Na minha simples e única opinião, religião é algo muito ortodoxo para que eu me encaixasse. E minha mente se questiona muito para conseguir me contentar com tal sociedade.
Mas como esse podcast não é sobre mim e meus porquês, vamos voltar com a historia: Eu devia ter uns treze anos na época, que devia ser meados dos anos 2000 (pelas minhas contas, 2006), e já se falava sobre como aquela igreja era muito, mas muito rica. Mas tenho certeza de que ninguém sabia como ela começou, há quase trinta anos atrás.
Bem. Não vou julgar aqui se está certo ou não, mas vou falar como a própria igreja informa em seu site; que eles nasceram no subúrbio do Rio de Janeiro. Edir Macedo Bezerra ia todos os sábados ao Meyer com um teclado, um microfone e a Biblia, pregar em um coreto. De lá, depois de juntar boa parte de fieis, na Abolição, onde funcionava uma antiga funerária, no dia 9 de julho de 1977, que nasceu a primeira sede da igreja. O site também diz que essa primeira reunião agregou 225 pessoas, mas depois se passaram de 400 fieis durante reuniões diárias.
Não posso nem mencionar que ela se tornou um caso de sucesso. Segundo um artigo da página R7 de 2020, ela esta presente em 135 paises e já possui mais de 12,3 mil membros, tendo mais de 8 mil filiais, que eles chamam de templos, apenas no brasil, e mais de 3 mil no exterior. Não posso deixar de mencionar que ela é mais que uma igreja; ela é um belo exemplo de negocio.
Bem, eu ficava me perguntando, enquanto pesquisava sobre isso, como eu poderia falar melhor sobre essa igreja, como eu poderia fazer com que vocês entendessem mais sobre sua criação, então fui fazendo mais e mais pesquisas, lendo artigos aqui e ali e tentando montar algo que pudesse ser importante para demonstrar a vocês a importância da igreja para nossa historia. O que não era muito fácil, na verdade. Qualquer um que entrasse no site da Universal se deparava com muita, mas muita informação mesmo; dá para ver o quão complexa ela é agora. E, me desculpe primeiramente a qualquer fiel que deva estar ouvindo esse meu podcast, mas eu conseguia perceber uma clara relação de sua organização com um culto, no mais simples significado que essa palavra pode ter.
Mas, vamos entender um pouco desse contexto histórico: o Brasil era quase que praticamente todo católico até início dos 1900, afinal, a construção de nosso pais é diretamente ligado ao catolicismo e seu enorme poder, conforme aprendemos na escola. No entanto, ele foi perdendo sua força aqui assim como no restante do mundo, principalmente depois que o Brasil mudou de império para republica, no final do século XIX.
E foi no inicio do século XX que começou mais palpavelmente a historia das igrejas protestantes em nosso país.
Bem, eu procurei muito no site da igreja universal uma melhor definição sobre ela, pois sabemos agora que existem diversas vias que se podem ir a partir da reforma protestante, no século XVI. Mas não achei nada. O que achei nas pesquisas é que a Igreja Universal do Reino de Deus é definida como uma igreja cristã neopetencostal, que é tipo um pós-modernismo, se formos comparar com a historia da arte.
E para definir tudo isso, achei um artigo bem interessante sobre essa história, chamado “Neopetencostalismo: Desamparo e condição Masoquista” (leia o artigo completo AQUI). Entao vamos direto ao ponto: o texto diz que a historia desse movimento tem uma especia de 3 ondas:
“O pentecostalismo brasileiro pode ser compreendido como a história de três ondas de implantação de igrejas. A primeira onda é a década de 1910, com a chegada da Congregação Cristã (1910) e da Assembléia de Deus (1911) (...) A segunda onda pentecostal é dos anos 50 e início de 60, na qual o campo pentecostal se fragmenta, a relação com a sociedade se dinamiza e três grandes grupos (em meio a dezenas de menores) surgem: a Quadrangular (1915), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962)... A terceira onda começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80. Seus principais representantes são a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980).”
Como eu disse antes, esse tema poderia muito bem se tornar um podcast próprio com vários episódios, afinal, como o próprio trabalho apresenta, o neopentecostalismo é muito complexo. Mas vou pontuar algumas coisas que achei importantes: primeiro, que ele apresenta mais visualmente a luta de deus contra o diabo, só que seu diferencial é falar diretamente com esses seguidores que é possível ter uma vida que eles chamam de próspera.
E eu vejo como um diferencial muito importante para seu crescimento. É só pensar: a igreja tinha uma nova visão quanto ao evangelismo no país, mostrando que você podia crescer na vida de modo financeiro se você fosse fiel e vivesse completamente para Jesus, ajudando a igreja que eles dizem ser a casa de Deus. E isso já mostra um potencial de crescimento, afinal, era o que as pessoas queriam, principalmente no final da década de 1970; elas queriam crescimento financeiro e o custo de ter que se dar completamente {à igreja não era dolorido, já que eles estavam no lado do “bem”.
E achei um artigo bem interessante que corrobora com o que eu imagino que foi um dos principais fatores para crescimento rápido da Igreja Universal. É um Trabalho de Conclusão do Curso de Administração intitulado “Igreja Universal do Reino de Deus: A Construção Simultânea de Dois Impérios” (leia o trabalho completo AQUI), que vai raciocinar como a boa gestão da empresa foi importante para seu crescimento.
Nesse trabalho, consegui achar informações que me fizeram entender melhor o crescimento dessa igreja. Como falamos em episódios anterior desse podcast, no final dos anos 1970 houve uma grande migração de pessoas que vinham da zona rural do país para as grandes metrópoles a procura de condições melhores de vida. Só que, como essas grandes cidades não estavam preparadas para esse movimento, então essas pessoas construíam suas vidas às margens da sociedade, nas favelas, sem nenhuma boa estrutura. E é por conta dessa realidade que as pessoas ficavam mais carentes e suscetíveis à religiosidade, que ajudaria a acalentar o coração dessas pessoas. O trabalho então diz que:
“Diante de toda aquela triste realidade, as pessoas se encontravam mais suscetíveis ao apego à religiosidade, buscando nesta uma válvula de escape para todo o sofrimento que estavam passando. Este contexto soou como uma grande oportunidade para a IURD, que surgiu com uma mensagem religiosa estruturada sobre o tripé cura-exorcismo-prosperidade financeira, ou seja, uma mensagem religiosa baseada em tudo aquilo que aquelas pessoas buscavam para suas vidas.”
Mesmo sendo muito cético, eu ainda acredito na bondade do ser humano, então eu, particularmente, não acho que o Edir Macedo tenha criado a Igreja Universal já visando o lucro, até porque nós sabemos o quão fervorosas são algumas pessoas evangélicas. O que eu acredito foi que, ele e mais alguns membros não estavam contentes com as regras das igrejas que já existiam e pensaram em criar sua própria igreja a partir do que eles acreditavam ser o certo. Mas, como viram que sua nova ideologia estava tendo frutos, se aproveitaram disso para crescer com mais rapidez. E foi nesse ponto que perceberam que podiam transformar a religiosidade em um produto que desse lucro.
E muito lucro, para falar a verdade. Nós sabemos que a igreja Universal nasceu no ano de 1977 e, para você ter uma ideia da rapidez que ela cresceu, no ano de 1989, eles compraram a TV Record por 45 milhões de dólares. E isso para mim é muito louco, porque ela se tornou uma grande empresa de muito, mas muito sucesso mesmo sem vender absolutamente nada; ela cresceu pela fé. Na verdade, olhando mais a fundo, ela estava sim vendendo alguma coisa: ela vendida esperança para essas pessoas.
Mas agora, depois dessa volta enorme que eu dei, vamos voltar ao nosso caso: Marcelo Costa de Andrade foi preso acusado do assassinato de 14 crianças no ano de 1991. Ele não teve pudor em falar o que faziam, como matava as crianças e todos os detalhes terríveis de seus crimes.
Nós sabemos que Marcelo teve uma infância muito difícil, fugindo de casa e morando na rua, se prostituindo muito cedo nas ruas do centro do Rio de Janeiro e eu posso até estar muito enganado, mas acho que isso influenciava um pouco a escolha de suas vítimas mais à frente. Mas, quando Marcelo foi preso e confessou seus crimes, ele dizia que a escolha da idade das crianças era por um motivo bastante distinto.
Ele dizia que escolhia as crianças entre 5 e 14 anos, pois ele havia visto uma pregação de um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus que ele frequentava que dizia que as crianças, quando morriam, iam direto ao céu. E esse motivo foi muito, mas muito importante para que os veículos de imprensa da época relacionassem a motivação dos crimes cometidos pelo Vampiro de Niterói.
Eu consegui na internet a cópia da revista IstoÉ Senhor de fevereiro de 1992 que, para mim, é muito importante nas minhas pesquisas, pois contém uma entrevista com o próprio Marcelo e ainda entrevista com a família de sua última vítima. É uma matéria bem interessante, pois foi recente ao ocorrido e tem muitos detalhes e informações muito importantes. E na página 18 dessa revista tem uma imagem muito interessante de Marcelo vestindo uma espécie de manto azul e com as duas mãos juntas como quando se vai rezar, ou orar, dentro de uma espécie de rio com a água até um pouco abaixo de sua cintura, ao lado, outro homem — talvez um pastor — com as mesmas vestes, porém brancas, segurando-o pela cabeça e mãos. Qualquer um conheceria que aquela era a cena de um batismo evangélico. Ao lado da foto, em letras vermelhas e capitalizadas, a chamada: “A RELIGIÃO COMO PRETESTO”.
(Como achei uma cópia dessas páginas da Revista na internet, não poderei, infelizmente, compartilhar elas com vocês aqui).
Já na outra página, temos um parágrafo inteiro falando sobre a religiosidade de Marcelo, logo depois de a matéria informar que, até que fosse descoberto mais vítimas ele dizia, que havia matado apenas o Ivan, sua última vítima, e explicava que tinha cometido o crime pro que havia aprendido em sua igreja que crianças, quando morrem, vão para o céu. Eu vou ler todo o parágrafo que conta sobre a religião, está bem? Assim, a gente vai ligando alguns pontos importantes. E eles diz o seguinte:
“Marcelo por algum tempo frequentou, de fato, a controvertida Igreja Universal do Reino de Deus. Ele era um fiel do templo da avenida Visconde de Itaboraí, em Niterói. Na quinta-feira, 2º, durante o culto das 15h, um certo pastor Bruno (ele só se identifica assim) limitou-se a resmungar: “Têm vindo muitos repórteres aqui por causa deste assunto”. E mais não disse. Marcelo insiste nesta explicação que, para ele, funciona como uma motivação garantida pela palavra de Deus. “Ele fala nisto com a persistência de quem tenta convencer o ouvinte de que foi movido sinceramente por alguma coisa parecida com uma certeza interior: mortos, eles vão ao encontro de Deus”, explica o delegado. A mãe de Marcelo, Maria Sônia, encontrou entre os pertences do filho uma fotografia do que parece ser um rito de iniciação. De bata azul, mãos postas, ele recebeu uma espécie de batismo banhando-se nas águas de um rio, como faziam antigos cristãos”.
Dá pra perceber o quanto essas informações foram tão importantes na época, principalmente para a mídia. Pelo que me parece, a Igreja Universal do Reino de Deus já era alvo de diversas especulações já em 1992, o que não é de se admirar, afinal, mesmo apresentando algo muito breve dá pra entender mais ou menos a estranheza que as pessoas devem ter sentido quando ela cresceu de forma descomunal, como o Edir Macedo se tornou alguém muito potente, não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o país. Então, quando um assassino confesso começa a falar que aprendeu na igreja como assassinar crianças, os olhos foram mais uma vez voltados para a Universal.
Naquela época, a igreja era uma potência de fé no Brasil tendo muitos templos, e indo contra o que era de poderoso. Edir Macedo, além de comprar a TV Record a alguns anos antes, também começava a se tornar um homem político e muito importante para os presidentes. E é também naquele ano, em maio de 1992, que ele é preso pela polícia de São Paulo, acusado de charlatanismo, estelionato e curandeirismo. Seus fiéis, no entanto, fizeram passeatas e ficaram acampados em frente ao presídio, e gritavam que havia tido uma injustiça. Macedo ficou preso por 11 dias, mas foi então solto e se livrou de todas as acusações.
Em seu livro “Nada a Perder”, ele conta que estava sendo perseguido pela igreja Católica e a Rede Globo, que ele chama de “poderosos” da época. No site da igreja Universal, uma postagem que conta um pouco sobre essa prisão, ele fala melhor sobrei isso (leia a íntegra AQUI). A parte diz assim:
“Eu tinha e tenho muitos inimigos. O clero católico, a Rede Globo, a gente poderosa usada por eles. Eu até entendo tantos ataques, realmente há motivos para isso. A Igreja Universal incomoda. Nós assustamos. Nosso Crescimento assustou muita gente na época da minha prisão e continua assustando até hoje”.
Devo confessar que as histórias que a igreja conta são muito convincentes, de verdade. É possível você se questionar se todo esse burburinho sobre a Universal não é mesmo para tentar destruir um local que pensa, vamos dizer que, diferente do que fomos costumados a pensar. Quero dizer, é só ver a história do Brasil para perceber como a igreja católica era um poder supremo no governo brasileiro e influenciou diretamente tudo que conhecemos até hoje. Dá para entender o porquê deles acharam que são perseguidos pela igreja católica: eles transformaram a cabeça do brasileiro, de seus fiéis, fazendo entender que era legal pensar diferente, pensar da forma deles, contra essa grande maioria que eles chamam de “poderosos”. E toda essa narrativa é muito tocante, e nos faz acreditar que eles podem ser os mocinhos de toda essa história.
Mas...
Eu não caio muito em qualquer história, para falar a verdade. Eu preciso ser convencido de uma forma muito, mas muito profunda, sabe? E não precisa de muito para que eu quebre o “encanto” da narrativa que eu ainda nem tinha engolido. Quando entro no site da igreja Universal uma semana enquanto pesquiso sobre esse episódio, me deparo com uma frase dita no próprio Edir Macedo que me fazem questionar muita coisa, que é a seguinte: “As injustiças são o combustível da manifestação da fé viva”. Essa frase me pareceu que foi dita por ele em alguma live que o chamado bispo fez, mas eu nem quis me atrever a ver completa, pois, como o ditado popular mesmo diz, “para bom entendedor, meia palavra basta”.
Mas devo confessar que eu queria mesmo achar alguma informação que, bem, salvasse, a igreja Universal, que mostrasse a você ouvinte um lado positivo desse enorme grupo religioso. Eles têm muitos, mas muitos artigos sobre temas da atualidade, o que mostra o quão engajados com o que ocorre no mundo eles estão, e me deparei com uma matéria sobre “pedofilia e violência sexual”. Ela é de 2010, mas não achei nada sobre o tema mais recente nas páginas da igreja.
Bem, eu vou ler ela completamente, mas prefiro me abster de comentários. Para falar a verdade, eu vou falar algumas notícias importantes que têm relação a igreja Universal que achei na internet e prefiro não fazer nenhum comentário. Afinal, eu também não teria dinheiro para pagar advogados caso me processem.
Além disso, eu vou falar sobre esses casos aqui por que eles têm relação com o tema do meu podcast. E digo que coisas terríveis assim acontecem em mais diversos círculos religiosos e sociais, não apenas na igreja Universal, por exemplo. O importante em demonstrar essas histórias é que a sociedade abra o olho para que coisas terríveis não aconteçam mais com as crianças.
Agora, voltando, eu li por completo esse texto sobre Pedofilia e Violência Sexual contra crianças publicado no site da Universal, que se encntra AQUI.
Agora, eu estava procurando sobre qualquer coisa que pudesse referenciar pregações da igreja com o que Marcelo disse ter ouvido sobre crianças que vão para o céu quando morrem, quando me deparei com duas outras informações que achei importante passar aqui para vocês.
A primeira é de uma matéria do site português “O Observador” sobre Edir Macedo, sobre quinze momentos polêmicos dele, que foi publicada em dezembro de 2017. Pelo visto, naquela época a igreja do chamado bispo não era bem quista no país. E o 15 assunto apresenta me chamou a atenção. Se quiser ler a página completa, ela se encontra AQUI.
Mas de qualquer informação sobre a Igreja Universal do Reino de Deus que possa ser assustadora, se não polêmica, existe uma que me deparei que me choca desde que conheci há um tempo — e, pesquisando mais sobre essa igreja tão falada, volto a relembrá-la. É um caso de crime que ocorreu dentro de um dos seus muitos templos espalhados por todo o país. Também é um crime contra um jovem de 14 anos que ocorreu na filial do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, Bahia, e seu nome era Lucas Terra.
Esse caso é mais um que eu tenho certeza de que poderia se tornar mais um podcast, pois é algo terrível que não deve ser esquecido. A memória dessas vítimas deve ser sempre lembrada para que não ocorra nunca mais com nenhum outro jovem.
O caso aconteceu no ano de 2001, mas só agora, em 2023, que os dois acusados, pastores evangélicos, foram sentenciados a 21 anos de prisão em regime fechado. Era março daquele ano quando o menino Lucas Terra foi para a igreja, pois ele era muito fervoroso e acreditava na bondade daquele lugar. O pai conta no livro que escreveu intitulado “Lucas Terra: Traído pela Obediência” (O livro completo está disponível AQUI)que o menino ligou para ele às dez da noite, aproximadamente, para dizer que estava com o pastor, pois eles iriam fazer um propósito de oração”. Depois dessa ligação, o menino sumiu.
Dois dias depois, um corpo foi encontrado carbonizado em um terreno baldio perto do templo do bairro do Rio Vermelho, e os exames de DNA e as investigações iriam afirmar que aquele corpo era do jovem Lucas Terra que havia sido queimado vivo. Mas o pior estava por vir: a polícia conseguiu chegar aos verdadeiros culpados desse assassinato cruel: três pastores daquela igreja, pessoas que o menino acreditava serem exemplos da fé em Deus.
Essa história é, pra mim, muito triste de ser contada, de verdade. O que posso dizer para não ir muito afundo é que descobriram que Lucas flagrou dois pastores mantendo relação sexual dentro da igreja e, por conta disso, ele foi agredido, estuprado e queimado vivo dentro de uma caixa de madeira. Os nomes dos culpados são: Joel Miranda, Fernando Aparecido da Silva e Silvio Galiza, que se dizem pastores da Igreja Universal do Reino de Deus.
Bem, pelo menos a Universal afirma que as crianças inocentes que foram mortas subiram aos céus para ficar com Deus e Jesus Cristo. E tudo que se espera é que para os que acreditam ou não, é que suas almas estejam em paz.
Mesmo depois de tantos, mas tantos casos terríveis contra crianças e adolescentes no mundo, sangue inocente ainda é derramado todos os dias, e que poderia ser evitado. Sangue derramado, como a crença cristã diz que foi derramado na crucificação de Jesus Cristo. Sangue derramado como...
Como Marcelo dizia que acontecia com suas tristes vítimas, que ele contava também que bebia seu sangue, pois se sentia puro.
Mas sobre isso vamos falar no próximo episódio. Eu sou Thiago Pined e você ouviu a “Luz e Sombra: O Caso do Vampiro de Niterói”.
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